quinta-feira, 19 de julho de 2012

Meu nome é Rádio (2003)



"Meu nome é rádio" não conquista tanto no título, mas chama a atenção pela essência. Inspirado e bem fiel aos fatos reais, o filme conta a relação do treinador de futebol americano Harold Jones (Ed Hirres) com James Robert Kennedy (Radio), jovem com deficiência mental não diagnosticada que ele conheceu em 1976. Definido com  "lento" na época, porque nenhum médico soube informar à família o que ele tinha, Rádio caminhava todos os dias solitário pela cidade sem interagir com ninguém. Até Ed Hirres notar a sua presença. 

Apelidado de "Rádio" devido a sua paixão pelo produto, James passava a tarde observando o campo de treinamento e as aulas do professor. Após uma brincadeira de mau gosto armada pelos alunos, o treinador sente a necessidade de se aproximar do garoto e tentar interagir com ele. O objetivo? Segundo Hiarres "fazer a coisa certa", mas a verdade é que o professor teve uma experiência no passado que o marcou por toda a vida. Por causa disso, foi o único que se sentiu disposto a fazer a diferença e mudar completamente a história de Rádio, que passou a se expressar e se abrir para um contato maior com as outras pessoas.

Com  uma excelente atuação de Cuba Gooding Jr., Rádio nos faz entender como é amar de graça e nos conquista pela inocência dos seus sentimentos. Assistindo ao filme, é impossível não se encantar por ele e pela transformação causada nas pessoas ao seu redor. Ficamos com a impressão de como as coisas podem mudar quando incluímos o deficiente na sociedade.

A relação de Rádio com a mãe é outra coisa que traz bastante docilidade ao filme. Mesmo aparecendo apenas em quatro cenas, a relação deles é bem explícita e nós conseguimos perceber o quanto de amor e carinho existe entre eles e o quanto a condição do filho perante ao mundo frustra a mãe, que sente medo de alguém fazer alguma maldade com ele definindo-o como "um jovem lento, mas de muito bom coração". Acho que todas as mães poderão se identificar com tamanho amor, principalmente na cena mais forte entre os dois. Se possível, diga aquela mesma coisa para o seu filho. Pode facilitar as coisas quando acontecer com você.

Não sei se as coisas seriam diferentes para Hirres se ele não tivesse um motivo para ajudar Rádio, mas sei  que a maioria dos pais não encontram um Rádio por aí e decidem lutar por ele. Na maioria das histórias, nós pais, irmãos e profissionais decidimos mudar a vida dos "Rádios" do mundo exatamente pelo fato de que eles fazem parte de nós e não porque o encontramos pelo caminho, como no filme. Mesmo assim, nós ainda podemos encontrar uma série de "Hirres" por aí, exatamente pelo fato de que "nunca é um erro se importar com alguém".

Além disso, a história também aponta a relação do treinador com a filha. Hirres era um pai ausente por causa da dedicação que ele tinha com o futebol americano. Ao se aproximar de Rádio, percebeu que poderia ser um pai diferente, algo que também comove no filme.

O que me impressiona foi saber que Cuba Jr. não teve nenhum contato com Rádio para a construção do personagem. O ator deu um show de interpretação ao capturar a essência da história e transpôr para a tela. "Meu nome é rádio" não conquista no título, mas ganha no que tem, inspira e causa. "Sua coragem fez todos eles se tornarem campeões", e a gente termina o filme sem saber de quem o slogan realmente está falando. 


Hoje em dia, James e Harold mantêm o contato e a amizade. Aos 63 anos e ainda chamado de Rádio, James mora com o irmão mais velho, a cunhada e mais um irmão com um grau de deficiência maior que o dele, além de continuar frequentando a escola e assinar o nome do mesmo jeito. Você vai sorrir quando ver ele escrevendo uma carta no filme.

Com: Cuba Gooding Jr., Ed Harris, Brent Sexton, Sarah Drew, Debra Winger.

Meu nome é rádio: Assistir Dublado


terça-feira, 10 de julho de 2012

"Por favor, não chame autismo de doença"


Lendo alguns e-mails e conversando com algumas pessoas, percebi que muita gente se sente mal quando o autismo é tratado como uma doença. Um dos pais até me indagou. "Meu filho me mudou completamente. Hoje eu sou uma pessoa bem melhor. Como posso chamar isso de doença?". 

O autismo é definido como um Transtorno Global do Desenvolvimento, que impede a pessoa de desempenhar atividades diárias e sociais sozinha. Existem quatro tipos de autismo e cada um deles tem as suas características. De todas elas, a principal é a dificuldade na socialização. O mais leve deles se enquadra em pessoas que possuem apenas traços de autismo, apresentando "características leves como a dificuldade em se relacionar com o outro ou com algum tipo de interesse específico, se focando apenas por um tipo de coisa/assunto e dominando todas as informações existentes sobre ele". Quando falo de relações sociais, não imagine alguém "difícil de lidar", imagine alguém que tem dificuldade em mostrar o que sente ou perceber o que "você sente", sem que você diga. Autistas não lidam com indiretas ou desvendam caras feias, eles só sabem lidar com a sinceridade.

Outro tipo de autismo é chamado de "Síndrome de Asperger", que também apresenta características como dificuldades sociais e aversão à quebra de rotina ou regras, por exemplo. Neste caso, "os Aspergers não costumam demorar para falar e nem possuem retardo mental. Se interessam por assuntos específicos e costumam focar as suas habilidades neles". 

O chamado "Autismo em pessoas com alto funcionamento" se apresenta em pessoas que "não possuem déficits cognitivos, ou seja, retardo mental, mas que tiveram dificuldade de interação social, dificuldades comportamentais, entre outros". O tipo mais delicado do autismo é chamado de "autismo clássico" associado ao retardo mental, dificuldade na interação social e dependência.*

Entre outras características, pode-se perceber que a principal delas é a dificuldade em interagir socialmente. Apesar disso, quando nos aproximamos deles e entramos em seus mundos, percebemos que são pessoas muito sinceras e carinhosas. Não fingem sentimentos e nem conseguem mentir. Quando você convive com um autista e trabalha nas dificuldades que ele tem, você consegue perceber o quanto ele é especial e o quanto isso muda você. É sabendo disso que a gente consegue entender quando uma pessoa é modificada "humanamente" pelo autismo e não o consegue chamar de doença.

* As principais informações foram tiradas do livro 
"Mundo Singular - entenda o autismo",
 entre outras pesquisas. Teremos resenha sobre ele
no próximo post!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Post fora do comum: Oi pessoal!

Queria agradecer a receptividade de vocês quanto ao Blog, quanto ao texto e quanto ao Igor. Todos os abraços e beijos enviados foram dados. Não abandonei o Blog. Estou ausente, porque estou cobrindo um evento de tecnologia para o meu TCC. Mas, alimentarei o Blog assim que puder.

O mais gratificante de tudo foi conhecer a história de vocês, mesmo. Conversei com muita gente e pude perceber que todo irmão de autista tem as mesmas sensações. Mais uma vez, o Blog foi feito como um ponto de encontro desse assunto, então mandem e-mails a vontade, peçam os assuntos que interessar a vocês, falem o que quiser, mesmo.. Não sou especialista, sou uma pessoa que tem um irmão autista e é completamente apaixonada por ele. Não é fácil, temos muitas dúvidas e conflitos, mas eu acredito que no final só sobre amor.

Dias desses conversei pessoalmente com um dos leitores do texto e achei bonito ver o quanto ele gostava do irmão. Ele era daquelas pessoas "na casa dos vinte" com sorriso de menino e uma certeza absoluta do significado do irmão na vida dele. Tivemos ideias semelhantes quanto ao "impacto" do autismo, de modo que se eu tivesse o conhecido antes, minhas dúvidas seriam bem menores. Então, acho que o Blog é meio isso. É para fazer com que a pessoa que tem contato com autismo não se sinta única no mundo.

Desculpe a ausência, volto logo. Prometo.
Beijo!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sinto-me só


Lembro da primeira vez que peguei esse livro na estante de uma livraria no Shopping. Lá estava ele escondidinho atrás de uma série de publicações sobre histórias medievais. Li a sinopse para ver se a história me atraía, mas saí do local sem comprar. Dois anos mais tarde, eu voltei para aquela mesma loja e o encontrei novamente escondidinho. Resolvi levar.


O livro é um relato do jornalista Karl Taro Greenfeld sobre as fases de sua vida ao lado do irmão Noah, portador de autismo. Embora eu tenha um irmão autista, eu nunca havia lido  um livro sobre o assunto antes e fugia um pouco disso até. O motivo? Um filme que assisti durante a infância e que mostrava o autista de um jeito bobo, com uma família que não liga para ele. Achei completamente diferente da vida real e nunca mais busquei assistir nada parecido.

Sinto-me só é um livro que abordou todas as questões internas e externas de pais, irmãos, primos, tios e qualquer pessoa que tenha contato ou que viva com um autista. No decorrer da história, o autor aponta a angústia dos pais ao perceber que Noah era uma criança diferente "Por que ele ainda não anda? Por que não disse a primeira palavra ainda?". O relato da busca pelo diagnóstico é algo que surpreende devido aos  diferentes tratamentos que diversos médicos e especialistas tentaram dar à Noah e a outras crianças autistas.

De página em página, você vai ficar de olhos mais abertos para perceber a fragilidade e a solidão de Noah, como também da família. Você percebe que não existe nada bobo e nenhuma desistência, as famílias sempre buscam uma cura, embora ela ainda não exista. A importância do livro está no fato de que Karl é bastante sincero quanto aos seus sentimentos. Ele aponta que sente uma cobrança maior dos pais, que gostaria que o irmão fosse normal para serem parceiros, que se frustra com a atenção maior dada a Noah e conta sobre as diversas instituições e cuidadores que ajudaram a família a tomar conta do irmão. Karl até fala da dificuldade de encontrar essa ajuda. "... porque amor não é algo que se possa contratar alguém para dar, por mais generoso que seja o seu orçamento para a contratação de prestadores de serviço". O parente até quer um especialista para cuidar do autista, mas antes de tudo, nós queremos alguém que seja capaz de amá-lo.

Depois de ler o livro você percebe o quanto as famílias lutam pelos direitos do portador da doença, o quanto há a esperança e o quanto é errado achar que isso está longe de nós, porque a verdade é que não está. "Sinto-me só" é um livro cheio de sinceridades, e você está pronto para todas elas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Entre bolhas e garrafas

Nunca poderei falar de autismo como profissional, mas sim como um alguém que conviveu com ele. Cresci com um irmão autista não-verbal três anos mais velho e ele é o amor da minha vida. Viver com ele me modificou completamente, principalmente como pessoa.


A ideia do blog surgiu após ler o relato de uma mãe preocupada em saber como seria a relação do filho recém-nascido com o irmão autista e o que poderia ser feito quanto a isso. Eu cresci sempre muito próxima do meu irmão e acho que isso é o maior passo de todos, de modo que nossa relação também é a mais íntima de todas. Eu olho para ele e já entendo o que ele quer. O meu objetivo aqui é conversar com irmãos que queiram conversar sobre a relação com o irmão autista, expôr assuntos sobre essa relação, ou até mesmo ter contato com os pais que vivem uma história parecida.


Entre bolhas e garrafas é uma alusão ao brinquedo que meu irmão nunca deixou de ter. Dependendo do grau de autismo, a criança tende a ter um apego por um mesmo objeto. Quando éramos menores, minha mãe inventou de colocar três gotas de detergente com um pouco de água dentro da garrafa de refrigerante e as bolhas de sabão chamaram a atenção do meu irmão. Desde então, isso se tornou seu eterno brinquedo. Por mais que carrinhos também chamassem a atenção, ele sempre foi fiel às bolhas de sabão.